O primeiro semestre de 2025 escancarou uma realidade incômoda para os soteropolitanos: Salvador está se tornando a capital das multas. Com 357.137 autuações registradas apenas entre janeiro e junho, a Transalvador parece ter se consolidado como a máquina arrecadatória mais eficiente da gestão de Bruno Reis, herdeiro político direto de ACM Neto. A redução de apenas 3,8% em relação ao ano passado mal disfarça a agressividade do sistema punitivo implantado na cidade.
Os números chamam atenção não apenas pela quantidade, mas pela frequência com que os radares e agentes atuam. Em média, são quase 60 mil multas por mês. E quem paga a conta são os motoristas comuns — os automóveis particulares responderam por mais de 63% das infrações. Motociclistas, motoristas de utilitários e até pedestres sentem no bolso o peso de um sistema que prioriza punir, mas pouco investe em educação e infraestrutura urbana.
A prefeitura justifica os números com o discurso de segurança no trânsito, mas é difícil ignorar que o foco está cada vez mais na automatização das penalidades. Com quase 51% das multas sendo aplicadas por radares e outros 45% por smartphones nas mãos de agentes, o que se vê é uma Salvador com olhos eletrônicos em cada esquina e um orçamento que engorda à custa do contribuinte.
Essa sanha por controle e punição não se limita ao trânsito. A prefeitura publicou recentemente um decreto que estabelece multas até para quem usar patinetes elétricos de forma “inadequada”. Menores de 18 anos estão proibidos de usá-los e os usuários estão sujeitos a multas, advertências e até suspensão do direito de circular. Tudo com o pretexto de “ordem pública”.
É preciso perguntar: Salvador está sendo planejada para seus cidadãos ou para arrecadar? A cidade que multa o motorista, o ciclista, o usuário de patinete e até quem leva uma caixa de som para a praia precisa repensar suas prioridades.
